quinta-feira, 2 de setembro de 2010

JONAS CONVERSÃO E MISSÃO

“Levanta-te e vai à grande cidade: introdução ao estudo do profeta Jonas” é o título do subsídio preparado pelo grupo Shemá, do Serviço de Animação Bíblica, para o mês da Bíblia de 2010. Ele apresenta um estudo e círculos bíblicos, sobre o livro do Profeta Jonas. Este profeta foi escolhido tendo presente, a necessidade de anunciar a Palavra nas grandes cidades e perceber o lado positivo da realidade urbana.

O Livro de Jonas está inserido entre os livros proféticos, porque fala de um profeta que deve proferir um oráculo de Deus. Mas é muito diferente dos demais livros propriamente proféticos, não pelo seu conteúdo, mas pela sua forma narrativa que o aproxima mais de um conto ou lenda popular, por causa de seus elementos fabulosos e míticos e, mais ainda pelo seu conteúdo sapiencial.

Podemos dizer que seu autor misturou bem os elementos do profetismo bíblico, da imaginação popular e da literatura sapiencial. O resultado dessa mistura é um escrito bem leve, que trata de coisas sérias com um toque de humor e poesia, e trata sobre a recusa de um profeta a fazer o anúncio da mensagem de Deus, na cidade de Nínive (capital da Assíria).

Quem é o autor principal em cena?

Jonas é apresentado como se fosse o profeta que fez um oráculo de restauração de Israel, no tempo de Jeroboão II (783‑ 743 a.E.C.): “Jonas, filho de Amitai, que era de Gat‑Hofer” (Jn 1,1; 2Rs 14,25). Mas isso é uma ficção. O autor do livro está apenas servindo‑se de um profeta desconhecido, do passado, para protagonizar sua narrativa, que não condiz com a época de Jeroboão II. O Jonas deste livro não é um herói, não faz nenhuma façanha, não é um santo; ao contrário, ele desobedece a Deus, contesta suas ações e, nem de longe, é o principal ator na cena. Deus é realmente o personagem central da história: Ele envia Jonas a Nínive (1,1); segue Jonas a caminho de Tarsis, provoca a tempestade (1,4), solicita um peixe para salvá-lo (2,1), reenvia Jonas a Nínive (3,1), salva Nínive penitente (3,10) e questiona Jonas (4,1ss.).

O que o autor pretende com esse escrito? {peso2}

Infelizmente, quando falamos de Jonas, a primeira imagem que nos vem à mente é o profeta no ventre de uma “baleia” (na verdade, fala‑se não de “baleia” mas sim de um “grande peixe”: 2,1‑11). Esse elemento — o mais fabuloso da narrativa — foi enfocado também por Jesus, comparando‑o à sua morte e ressurreição após três dias (cf. 8,31). Mas esse episódio não ocupa mais do que dois versículos do texto. Não é o centro da narrativa. O peixe é somente um instrumento na mão divina. Mas, Deus é o centro. Ele não é apenas o Deus de Israel, que o escolheu e o amou; Ele é o Deus de todos os povos, aos quais ama e por quem tem misericórdia. Por que, então, Jonas tentava fugir de Deus, até o ponto de pedir para ser atirado ao mar?

Por que Jonas tenta fugir de Deus?

Porque o anúncio é dirigido a um povo estrangeiro, habitante de Nínive, e não ao povo de Israel. Ora, essa cidade foi, por séculos, a capital do Império Assírio, que chegou a dominar e dissolver totalmente o antigo Reino de Israel, ao norte. Trata‑se, portanto, de uma mensagem dirigida a um dos grandes inimigos de Israel! É fácil pensar que Jonas ficaria muito feliz em anunciar a essa gente, que sua cidade seria destruída dentro de quarenta dias. Mas Jonas se nega a anunciar esse acontecimento! Por quê?

A resposta está em Jn 4,1‑3. Jonas sabe que Deus terá misericórdia e compaixão, por isso se recusa a anunciar a mensagem. Jonas não consegue escapar de Deus, pois a revelação da misericórdia que Deus está para anunciar ao povo de Nínive, por meio do profeta, é irrenunciável. Deus insiste com Jonas e não abre mão de sua colaboração, como profeta.

Esta narrativa ilustra a concepção universal da teologia sapiencial. Ela esclarece que a misericórdia de Deus é dirigida a todos os povos. É um livro que critica qualquer intolerância e arrogância de alguns grupos em Israel, e que pode continuar até hoje na nossa realidade, em nossa comunidade, em nossos comportamentos. Mas, como entender o conteúdo do Livro?

O Livro de Jonas tem profundas raízes bíblicas, tanto nos profetas quanto na literatura sapiencial. Não devemos nos fixar nos elementos fabulosos da narrativa. O mar e as atividades humanas ligadas a ele, como a pesca e as viagens, desde a antiguidade até hoje, são frequentemente associados a certas superstições.

A época da composição do Livro é o século IV a.E.C. Nessa época, Nínive já não mais existia, pois fora destruída em 612 a.E.C. O Livro faz referência a ela como uma realidade distante, no passado (Jn 3,3). Trata‑se, pois, de uma ficção literária. É um escrito pós‑exílico e representa uma corrente mais aberta, tolerante e universalista do judaísmo que se formou nesse período. Pode ser uma reação à política nacionalista de Esdras e Neemias, que tratavam os estrangeiros como pessoas tão indignas de confiança, que os israelitas casados com mulheres estrangeiras, deviam divorciar‑se e os estrangeiros deviam ser expulsos do Templo (cf. Esd 9 e Ne 13).

O Livro pode ser dividido em duas partes: o primeiro chamado de Deus a Jonas (1,1–2,11) e o segundo chamado de Deus a Jonas (3,1–4,11).

Cada uma dessas partes tem três subdivisões paralelas:

Primeira parte Segunda parte
1,1-3 Deus envia Jonas em missão aos pagãos 3,1-4
1,4-16 Deus e os pagãos 3,5-10
2,1-11 Deus e Jonas 4,1-11

Nosso estudo, neste fascículo, abordará os seguintes temas:

1) O chamado e a fuga de Jonas: O profeta resistente;

2) Três dias de retiro com Jonas: Na fuga, Jonas encontra a salvação;

3) Levanta‑te e vai à grande cidade: “Vai e anuncia a mensagem que eu te disser”;

4) Deus rico em misericórdia: A salvação é para todos.

Uma celebração final nos convida a entrarmos também em clima de missão nas grandes cidades, aliás, em nosso imenso continente americano e no Caribe, como nos pediram os bispos reunidos na assembleia do CELAM, em Aparecida, em maio de 2007: a grande “missão continental”. Jonas nos ajuda, então, a retomar e rever a nossa missão, seus objetivos, seus métodos, seus conteúdos e os próprios conceitos que temos de Deus.




FONTE: http://www.paulinas.org.br/sab/mes-biblia.aspx

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